Afinal, quem decide o que é arte contemporânea?

O TEMA DO SISTEMA

Mario de Andrade, em 1938, começou a sua aula inaugural dos cursos de Filosofia e História da Arte do Instituto de Artes da antiga Universidade do Distrito Federal, dizendo: “Devo confessar preliminarmente, que eu não sei o que é belo nem sei o que é arte”.

Causou surpresa. De certo modo, a exposição O Sistema”, de Paulo Cibella, traz uma proposta semelhante. No entanto, a sua provocação vai mais além, porque amplia a questão para mergulhar nas relações entre curadores, galeristas, críticos de arte, produtores culturais e artistas visuais.

Penetra assim, de maneira bem-humorada, criativa e misteriosa, nas questões sobre o que é arte e como funciona o mundo das galerias e museus. Os trabalhos apresentados trazem motivações para reflexão. Cada um deles fornece importantes pistas para mergulhar no que se costuma denominar “sistema da arte”.

A discussão começa na proposição de um pensar sobre o estabelecimento de fronteiras entre o que é arte, o que não é, e o que seriam o artesanato, o design, a arte de rua e o contemporâneo. Amplia-se ainda a busca por respostas para diversas indagações, como: haveria de fato no sistema uma busca por novos talentos?

Indaga-se também se o sistema de arte seria uma panelinha em que predominaria mais do mesmo e que as diferenças chamadas de disruptivas seriam controladas como se tudo não passasse de um jogo de possibilidades geométricas de círculos dentro de quadrados.

Haveria ética, transparência e respeito a regulamentações? Ou tudo seria jogo permanente de valorização financeira, financiamento de artistas chamados “emergentes” ou “em ascensão” e revitalização de nomes consagrados em crise criativa? Consultores, galerias e museus integrariam um sistema viciado e decadente?

O poderio econômico, físico ou virtual, falaria mais alto do que uma discussão sobre aquilo que se poderia chamar de “potência estética”? Paulo Cibella, nesses aspectos, apresenta um irônico e crítico curso do “sistema de arte”, desnudando seus integrantes na prática cotidiana do mercado.

Os chamados sucessos e fracassos seriam determinados por múltiplas variáveis, como “qualidade” de um trabalho, biografia do criador, currículo do curador e influência do representante do artista. A exposição estimula, portanto, um pensar criativo sobre esse universo sistêmico e remete ao artista visual Waltércio Caldas: “Isto é arte? Arte é isto”.

OSCAR D’AMBRÓSIO

SOBRE O ARTISTA

SOBRE O ARTISTA ✶

Paulo Cibella (São Paulo, 1976) é jornalista, artista, curador e co-fundador do Vórtice Cultural, cujo trabalho se destaca pela abordagem provocativa de temas como sexo, sociedade de consumo, indústria cultural e crítica ao sistema. Sua expressão artística engloba a apropriação de símbolos cotidianos, subvertendo suas mensagens de maneira perspicaz, com bom humor, ironia e acidez. Com uma abordagem que mescla técnicas clássicas e industriais, cria obras que desafiam as convenções estéticas e narrativas.

Texto
Oscar D’Ambrósio

Produção
Leonardo Maciel

Projeto Gráfico
Leonardo Maciel
Paulo Cibella
Sidney Secolo

Fotografia
Helena Marc
Leonardo Maciel
Paulo Cibella
Philipp Anchieta

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