“Eu trabalho duro para ter certeza de que os homens que eu desenho fazendo sexo são homens orgulhosos fazendo sexo.” — Tom of Finland
A arte homoerótica faz parte daquele universo de objetos que não ganham imediata adesão dos espectadores, seja através da ótica estética, política ou moral. Ela retrata assuntos incômodos à grande audiência por tratar de temas de gênero e sensualidade masculina, colocando o corpo como lugar de desejo e gozo, e também como representação social e política. Tais parâmetros sobre esta modalidade artística estão representados neste 1° Salão de Arte Homoerótica, que dá visibilidade ao que se esconde por trás de preconceitos e de uma moral heteronormativa.
Podemos aqui encontrar certa perversidade, pornografia e volúpia homoerótica, porém o que importa é que este vasto recorte é trazido à nossa consideração invocando nossas sensibilidade e inteligência com questões substanciais da humanidade. São questionamentos que marcaram muitos artistas em diferentes épocas e continuam em discussão e reflexão na contemporaneidade. Os artistas reunidos nesta primeira edição do Salão — Daniel Jaen, Félix D’eon, Hanz Ronald, Helton Aversa Gutierrez, Paulo Cibella e Paulo Jorge Gonçalves — trazem à luz corpos e desejos de homens por homens. Perpassam pontos relevantes, e ainda tabus, da masculinidade: prostituição, exposição na internet, vaidade, transgressão e pornografia entre outros temas muitas vezes perturbadores.
A homossexualidade ainda é pouco representada na história da arte, ou ao menos é bastante camuflada, apesar da expansão da revolução sexual que se estende desde os anos 1960. Se na Antiguidade pode-se encontrar cenas lascivas entre homens gregos e romanos, na Idade Média tais representações foram banidas por influência do catolicismo. Na Renascença, o homoerotismo aparece, por exemplo, em meio ao chiaroscuro do Narciso de Caravaggio (1571-1610) e na beleza estonteante do David de Michelangelo (1475-1564); ambos os artistas suspeitos de serem gays em uma época ainda de forte influência da Igreja Católica sobre a sociedade e o Estado. A temática homoerótica só retorna com força nas artes no Século XX, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, com nomes que vão de Tom of Finland, Robert Mapplethorpe, Andy Warhol e Lucian Freud, no cenário internacional, até brasileiros como José Leonílson, Alair Gomes, Alex Valauri e Hudinilson Jr.
Seria legítimo confiscar, censurar ou emudecer uma obra de arte pelo fato de nos chocar ou simplesmente por ser diferente da nossa moral? Cancelar não é a saída para a convivência nestes tempos de hipercomunicação. Convidamos todos a observar, sentir, refletir e envolver-se nos percursos dos seis artistas deste 1° Salão de Arte Homoerótica. A sexualidade é um aspecto muito importante das nossas vidas para deixá-la escondida no armário. Através da arte, podemos abrir as portas para uma aceitação mais positiva.
IVI BRASIL
Veja São Paulo, 2022, ano 40, nº. 24, p. 9
ARTISTAS
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ARTISTAS ✶
DANIEL JAEN
HELTON AVERSA GUTIERREZ
FELIX D’ÉON
PAULO CIBELLA
HANZ RONALD
PAULO JORGE GONÇALVES









Curadoria
Paulo Cibella
Texto
Ivi Brasil
Produção
Leonardo Maciel
Paulo Cibella
Assistência de Produção
Lucas Calvelhe
Projeto Gráfico
Sidney Secolo
Assessoria de Imprensa
Tag&Line
Montagem
Luiz 83
DJ
Luko
Fotografia
Ana Helena Lima
Leonardo Maciel
Paulo Cibella
Agradecimentos
Hermógenes Moussallem
Ricardo Ramalho
VANDL ART