PEGAÇÃO RUPESTRE

O tesão sempre buscou refúgios. Das paredes gotejantes das grutas ancestrais aos cubículos inusitados das metrópoles, a escuridão abriga encontros, libertação e prazer. Seriam as cavernas os primeiros dark rooms?

Em Pegação Rupestre, Marcelo Salum busca revelar como o desejo e o toque atravessam tempos e espaços, conectando o ancestral e o contemporâneo. Sua obra fricciona passado e presente: o sexo selvagem, ritualístico e comunitário das cavernas pulsa hoje nas práticas urbanas de cruising. Cruising é arqueologia.

O artista infiltra o grafismo como substância que intoxica o decoro, escorrendo pelo breu de um espaço que sempre acolhe mais um. Estalactites táteis erguem-se como corpos que convocam ao Tato, enquanto o eco de gemidos se inscreve na memória do prazer compartilhado. Se “porno” fosse música, abrir-se-ia em melodia e reverberação.

Pegação Rupestre é um chamado a escutar as paredes, tocar os vazios e decifrar, no erótico, uma linguagem que nos antecede — e que ainda hoje nos cruza na imersão do cheiro de pele úmida e da respiração curta.

LEONARDO MACIEL